«Não posso olhar para trás nem tão pouco voltar. Não seria justo se o fizesse. Mas eu quero, eu preciso.
Mais uma vez adormeço.
Tu abraças-me. Os teus braços envolvem-me e aquecem-me, neles sinto-me aconchegada e protegida. A tua cabeça está próxima da minha. Sinto a tua respiração, que inevitavelmente atinge o meu pescoço causando-me um arrepio. Não resmungo, solto apenas um leve suspiro e aninho-me o mais que consigo entre os teus braços.
Agora sinto-me protegida. Não quero que nada mude. Quero apenas continuar assim. Quero estar enroscada nos teus braços, arrepiada pela tua respiração... quero... quero... quero ficar assim contigo.
Acordo num sobressalto.
Nada disto é verdade. É apenas um sonho, um sonho cruel. Um sonho cruel porque todos os sonhos têm um fim, e este já acabou.
Desabo em lágrimas.
Aqueles braços calorosos que me cercavam fazendo-me sentir segura e protegida nunca existiram. O ruido da tua respiração na verdade nunca foi ouvido. A tua respiração nunca me causou arrepios. Tudo isto não aconteceu.Tudo isto não passou de um sonho. De um sonho...
Eu choro. Não encontro outra forma de atenuar toda esta dor. Choro em silêncio, como em tantas outras noites, como em tantas outras vezes o fiz. E sei que o voltarei a fazer.
Escondo-me por baixo dos cobertores e abraço a almofada. Tento abafar os soluços incontroláveis do meu choro por uns momentos, mas é impossível, aquilo que seriam apenas uns momentos são mais do que isso, são mais do que uma ou duas horas, são noites inteiras.
Depois de tudo isto volto a adormecer. Como sempre volto a adormecer. O cansaço trava as minhas lágrimas, fecha-me lentamente os olhos e por fim lança-me para um sono profundo acordando apenas no dia seguinte.
Não me questiono porque tens de ser tu. Sei que se não fosses tu seria outro alguém. As perguntas surgem no sono profundo, que por mais que tente, não me permite despertar. Não pergunto "porquê", mas pergunto-me se algum dia teremos um fim. No fundo o que quero perguntar é:
-Algum dia haveremos de ter um começo...?»