«Deixa-me ir ter contigo. Não sei por onde andei todo este tempo. Como é possível só agora, tanto tempo depois, surgir tanto sentimento? Não sei como lidar com todos eles. Talvez esteja a haver uma revolução ou uma guerra dentro de mim, que nem eu mesma consigo controlar.
Escrevo e risco e não passa mais disto. Como é suposto lidar com algo que não conheço?
Será que me conheço e sei por onde vou? A noite passada adormeci a pensar em ti e hoje... acordei ao teu lado, de mãos dadas e com um beijo de bom dia. Não sei como vim aqui parar.
Acho que perdi o controlo de mim mesma. Deixei de mandar em mim e todo o que sinto, agora, domina-me.
Talvez me tenhas feito perder todos os medos. A meio da noite acordo levanto-me e mesmo com roupa de dormir saio à rua, respiro o ar frio da madrugada junto com o aroma da chuva enquanto o frio percorre todo o meu corpo, espinha acima, e arrepio-me. Tudo aquilo está a acontecer. É real. Eu estou ali. E sem medos avanço. Não tenho medo do que deixo para trás nem do que possa vir a encontrar à frente, é contigo que quero estar.
Não sei que horas são... talvez seja apenas meia noite ou uma da manhã ou três ou quatro... não sei... nem isso importa.
Penso num misto de coisas, sem conseguir pensar em algo concreto, sem conseguir pensar racionalmente.
Perco o pouco jeito que tenho com as palavras, perco o pouco jeito que tenho para falar. Mas isso agora de nada vale, nenhuma palavra seria capaz de descrever o sentimento num todo.
Num gesto irracional, não fico parada, ando pelas ruas geladas descalça. Nada me faz parar.
Vou ter contigo. Dispo a roupa encharcada e deito-me ao teu lado. Ficamos abraçados e trocamos alguns beijos. Sinto a tua pele encostada à minha e todo o meu corpo a arrepiar-se como reacção aos teus beijos no meu pescoço e eu não resisto, solto o leve gemido, as minhas mãos descontroladas marcam um pouco as tuas costas e tu puxas-me mais ainda para junto de ti.
Apenas a chuva acompanhava a noite solitária, agora, também os nossos corpos a acompanham.
O dia nasce e nós acordamos tão juntos e tão unidos, mais do que alguma vez tivemos, em camas tão separadas mas com corações tão unidos...»
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