«Sento-me. Olho pela janela e a única coisa que consigo ver é o vidro embaciado. O frio do inverno arrepia-me e gela a ponta do nariz. E eu, abrigo-me no chávena de café bem quente.
Entre cada gole de café, penso sobre o quão triste é o inverno. As árvores despidas ficam sujeitas ao frio e à chuva, as pessoas trancam-se em casa e as poucas que se atrevem a sair, correm apressadamente entre cada pingo que cai, e o tempo cinzento traz ao cimo a má disposição das pessoas. No entanto eu gosto do inverno, do frio, da chuva... gosto de um bom livro e boas palavras na companhia de um café, uma manta e da lanha em chamas que solta leves ruídos.
Gosto da frieza do inverno, por vezes vejo-me nele. Fria.
Mas é em alturas como estas em que me embrulho em mil e um cobertores e me enrolo neles. Até a pessoa mais fria precisa de ser aquecida.
Procuro o conforto entre entre a caneta de aparo velha presa à minha mão e a folha de papel amarrotada sobre os joelhos e rabisco... rabisco... rabisco... são só rabiscos.
São só rabiscos porque estou a procurar, aquilo que quero, no sitio errado. O que procuro?! Mil e uma coisas que nem eu mesma sei. Talvez o conforto de um abraço, a doçura de um beijo, o calor de um carinho, a intensidade de um sorriso ou uma voz apaziguadora. Não sei o que procuro nem onde procurar.
O inverno traz consigo um enorme tempestade, vento, chuva, trovões, relâmpagos... como eu percebo a sua revolta... A revolta de gritar e não conseguir, a revolta de querer chorar e não poder, a revolta de querer mudar de caminho e ter coragem.
Mas as tempestades, embora deixem vestígios de destruição por qualquer lugar que tenha passado, acabam sempre por passar.
O café está doce porque tem açúcar e só está quente porque foi aquecido, porém no seu estado natural é e sempre será amargo e frio, a menos que alguém faça algo o seu trave será sempre o mesmo bem como a sua temperatura...»

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