sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Não me lembro do que escrevi ontem...

«Talvez não me lembre do que escrevi ontem, talvez já nem me lembre de quem sou, mas a fraca memória, a memória, que me faz egoisticamente existir e que não me deixa alimentar de lembranças, obriga-me a procurar um caminho ou uma resposta a algo que não me consigo lembrar.
Então ando por aí e enquanto isso descobro os prazeres da vida.
Observo as ondas a bater duramente nas rochas, como se estivessem a castigar pela sua própria natureza, saboreio o café bem quente quando olho pela janela e consigo quase sentir cada gota da chuva deslizar pela minha pele.
Tão pura a minha imaginação como a vontade daqueles que quem de longe sabe o que é viver. Talvez conheçam o mundo e quem sabe até conheçam tudo sobre eles, no entanto toda essa sabedoria e o desejo de saber mais sobre tudo tirou-lhes a vida e nem isso perceberam.
Quem saboreia um café? Quem beija na chuva? Quem anda de mãos dadas enquanto o sol se reflete na sua pele? Quem lê repetidamente a mesma página de um livro para a viver mais uma vez? Quem faz tudo isto para sentir em vez de o fazerem porque acham que o devem fazer?
Talvez as pessoas não devessem ter memória, pois isso é só uma forma de os levar a uma rotina que os vai destruindo lentamente aos poucos até que nada sobre.
Eu não tenho memória e o que sei hoje não saberei amanhã, mas uma coisa é certa, um dia todos partiremos, no entanto existirá uma grande diferença entre aqueles que realmente estiveram a viver e aqueles que pensavam estar a viver, uns  deixam saudade e corações cheios, já dos outros sobrará apenas uma tentativa de deixar todo o conhecimento que por muitos será para sempre esquecido...»

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Segredo

«Todos temos um segredo. Eu, tu, todos temos.
Não sei porque temos segredos, embora eu também os tenha.
Um segredo não poderá significar esconder algo sobre nós? Porque o fazemos? Teremos assim tanta vergonha de nós próprios? Acredito ou pelo menos tento acreditar que o motivo de haverem tantos segredos seja essa. Talvez seja só uma forma de nos protegermos, de quem? De que ainda mais segredos tem.
Eu acredito que ter um segredo que ter segredos não faz mal, porém será justo que os nossos sentimentos sejam um segredo?
A vida é feita de sentimentos, como podemos nós viver se nos limitarmos a esconde-los de todos e trancá-los dentro de uma gaveta? Deixariam eles de existir?
Dessa forma deixaríamos de viver, não passaríamos de meros corpos que não sentiriam o cheiro da terra e da relva molhada, meros corpos que não sentiriam o prazer dos raios de sol refletidos na pele ou as pequenas gotas da chuva a deslizar pelo seu rosto depois de ter encharcado o cabelo, meros corpos que jamais sentir sentirão o prazer ao desfolhar as folhas de um livro. Mas  pior que tudo isto, serão meros corpos que nunca descobrirão as saudades que um perfume pode deixar, nem o conforto de um abraço, a doçura de um beijo e o amor que alguém pode sentir por si.
Talvez sejam apenas medos, medo das saudades, das velhas feridas ou medo de que um dia tudo aquilo em que acreditámos não passe de uma memória.
Sei que há más lembranças, mas tal como estas também sei que existem outras tantas boas, da mesma forma que sei que sempre haverão segredos, e quanto a isto nada se poderá fazer.
Só me resta guardar todas estas palavras numa gaveta e quem sabe, um dia, se não me recordarei delas como hoje, quem sabe se para além de a chuva disfarçar todas as lágrimas que escorregam pelo rosto, não disfarçarão também as palavras, com um pouco de sorte o tempo leva-as e chuva apaga-as, bem como todas as tristezas, todas as memórias, todos os sentimentos...»

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Não sei qual é o meu futuro, mas sei qual é o meu presente

«Hoje apeteceu-escrever, escrever com erros, com imperfeições, tal como eu sou, imperfeita.
Tenho saudades de escrever como escrevia, mas sobretudo tenho saudades de quem o fazia,a pessoa que hoje já não sou, aquela pessoa que não sabia ainda o que era o amor e a palavra amar não passava disso, uma palavra.
Por isso hoje escrevo, escrevo de uma forma diferente, uma forma carregada de dor, de sofrimento, uma escrita cheia de duvidas, porém, cheia de amor.
Chega de palavras caras, chega de meias palavras e de meios termos, o amor não se compra nem se vende, o amor não é uma medida nem é medível. O amor é mais do que é, o amor também é sofrimento.
Eu não quero um grande amor, eu quero um amor real, um amor verdadeiro, quero uma chávena de café quente num dia chuvoso que é iluminado pela luz do lume da lareira e enquanto isso, um abraço apertado, um porto de abrigo para me refugiar quando não sei para onde fugir, mas quero os teus braços a abraçarem-me sobre o teu corpo, não interessa onde nem quando, só interessa aquilo que somos, e nós somos isso, um «Nós», um «Tudo».
Não tenho certezas de nada, como o disse já tantas outras vezes, talvez deva ignorá-las, se o vou fazer? Sei que, pelo menos, vou tentar.
Por enquanto, sei que quero que este sentimento permaneça, pelo menos enquanto superar toda a dor e todos o sofrimento, que inevitavelmente chega a todos e nos destrói lentamente.
Sei que o amor é capaz de tudo, inclusive de nos deixar perdidos, mas é assim que eu quero estar, quem sabe se não me irei deparar num caminho que me leve ás respostas que preciso, quem sabe se, um dia sem me aperceber, te esqueço.
Não sei o meu futuro, mas sei que o que o meu presente é sonhar contigo...»

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Talvez

«Sei por onde vou, mas não quero ir.
As mesmas palavras, os mesmos caminhos, os mesmos erros, os mesmos sentimentos, os mesmos sonhos, tu.
Acordo e olho para o relógio, mas não quero ver as horas nem tão pouco acordar, quero dormir. Quero dormir e sentir por uns instantes que tudo é verdade, que tudo é real, que eu não sou apenas eu e tu não és apenas tu, mas sim, que sejamos um «Nós». 
Não interessa onde, nem quando. O tempo pode apenas ficar parado, enquanto eu sonho, ou simplesmente te olho, não sei se conseguiria segurar as lágrimas. Tudo é o mesmo, pelo menos quase tudo... a dor é maior, o amor é maior, aos meus olhos és cada vez maior e aos teus, não sou nada.
Não procuro um amor, não procuro um consolo ou um porto de abrigo. O que procuro? Não sei, talvez ainda te procure, mesmo quando digo que vou desistir, talvez ainda te queira encontrar, mesmo quando digo que já desisti.
Sei o que sinto, e o meu hoje foi o meu ontem, foi o meu anteontem, foram os meus últimos cinco anos.
Não sei como é que tudo mudou e este sentimento continua igual. 
Não sei o que sou… não sei o que quero, e muito menos sei onde estou.
Quando me perguntam quem sou, sou alguém, sou apenas eu, não consigo ser só isto ou só aquilo, só consigo ser eu, com palavras por dizer, com medos por vencer, sou apenas eu, alguém que usa as suas inseguranças com uma arma para lutar, alguém sonhadora, alguém sem fim.
Talvez não saibas quem eu sou, tal como eu não sei, ou talvez eu não seja eu, talvez eu não exista, pelo menos para ti, talvez deva fazer aquilo que já tentei inúmeras vezes, desistir de ti, desistir de um nós, quem sabe,  até desistir de mim.
Talvez, não deva procurar respostas, talvez as deva encontrar, talvez deva encontrar certezas e deixar para trás todos os «Talvez» e quem sabe, em cada historia pôr um ponto...»