«Todos temos um segredo. Eu, tu, todos temos.
Não sei porque temos segredos, embora eu também os tenha.
Um segredo não poderá significar esconder algo sobre nós? Porque o fazemos? Teremos assim tanta vergonha de nós próprios? Acredito ou pelo menos tento acreditar que o motivo de haverem tantos segredos seja essa. Talvez seja só uma forma de nos protegermos, de quem? De que ainda mais segredos tem.
Eu acredito que ter um segredo que ter segredos não faz mal, porém será justo que os nossos sentimentos sejam um segredo?
A vida é feita de sentimentos, como podemos nós viver se nos limitarmos a esconde-los de todos e trancá-los dentro de uma gaveta? Deixariam eles de existir?
Dessa forma deixaríamos de viver, não passaríamos de meros corpos que não sentiriam o cheiro da terra e da relva molhada, meros corpos que não sentiriam o prazer dos raios de sol refletidos na pele ou as pequenas gotas da chuva a deslizar pelo seu rosto depois de ter encharcado o cabelo, meros corpos que jamais sentir sentirão o prazer ao desfolhar as folhas de um livro. Mas pior que tudo isto, serão meros corpos que nunca descobrirão as saudades que um perfume pode deixar, nem o conforto de um abraço, a doçura de um beijo e o amor que alguém pode sentir por si.
Talvez sejam apenas medos, medo das saudades, das velhas feridas ou medo de que um dia tudo aquilo em que acreditámos não passe de uma memória.
Sei que há más lembranças, mas tal como estas também sei que existem outras tantas boas, da mesma forma que sei que sempre haverão segredos, e quanto a isto nada se poderá fazer.
Só me resta guardar todas estas palavras numa gaveta e quem sabe, um dia, se não me recordarei delas como hoje, quem sabe se para além de a chuva disfarçar todas as lágrimas que escorregam pelo rosto, não disfarçarão também as palavras, com um pouco de sorte o tempo leva-as e chuva apaga-as, bem como todas as tristezas, todas as memórias, todos os sentimentos...»
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