«Vem doce e suavemente,
Sem intenções de ficar,
Mas fica e mata cegamente,
Aqueles que com o fogo costumam brincar.
Aquece e desaquece,
Como também pode queimar,
Surge do nada e enlouquece,
Veio por vir mas acabou por ficar.
Vem num gesto de quem quer brincadeira,
Mas não se deixa apanhar,
Isto é coisa séria,
Impossível de controlar.
Vem,
Vai e vem sem avisar,
Chega aqui,
Chega além,
Não há sitio por onde se possa escapar.
Vem e amarra,
Vem para prender,
Torna uma mulher apaixonada
E outra vida aprende a viver.
Mulher aprende a ser amanda,
Mulher aprende a vencer,
Mulher é guerreira numa batalha,
Mulher é mulher até morrer,
Porém quando a guerra é com o amor,
Essa guerra não vale nada,
Que venha a dor, que venha o sofrimento,
Que para a mulher será sempre uma guerra ganha,
Que pelo tão nobre sentimento,
Mulher que é mulher,
É uma mulher honrada.»

«Ás vezes escrever torna-se um vício.
Chegam palavras atrás de palavras que não podem ser caladas ou adormecidas.
Que escritor seria capaz de embarcar num sono profundo quando as suas mãos anseiam por embarcar sobre uma leve folha, deixando salpicos de tinta?
Não é só um borrão, não, não são só palavras, não é só aquilo que todos pensam ser.
Um escritor não escreve só sobre aquilo que lhe vai na alma. Escritor que é escritor também escreve sobre nada.
O que muitos dizem ser nada, para um escritor é muito, e não há quem dê mais valor a isto do que o próprio.
O café adormece o sono permitindo um olhar mais atento sobre o lápis, que rabisca a folha lenta e delicadamente, sentido aquilo que outros jamais sentirão.
Ninguém escreve direito, ninguém alcança a perfeição de uma palavra, uma perfeição que não permite á mão uma unica tentativa.
O efeito do café mais cedo ou mais tarde acaba e os olhos fecham, o cansaço vence e o corpo cai sobre a mesa onde permanece a folha onde se fazem notar as palavras rabiscadas com a caligrafia de quem já não é o que foi.
Agora descanso, sem pressa e sem hora para acordar.
Tudo muda mas este medo da mudança nunca irá mudar.
Hoje a folha é esta e as palavras estão escritas. O que farei amanhã quando acordar e perceber que irá ser tudo igual?? O que farei amanhã quando acordar e perceber que o esforço do café foi em vão? O que farei quando acordar á tua procura e perceber que todos os dias que lutei por ti foram em vão?
Talvez escreva novamente ou talvez, quem sabe, guardarei uma folha em branco na minha gaveta, na minha vida, na esperança de um dia escrever a nossa história, mesmo que não seja a realidade.
Um verdadeiro escritor sabe que a vida não precisa de ser uma realidade, pode ser apenas um sonho que nos alimenta e nos mantém vivos...»

«Onde procuro a inspiração? Não sei. Não sei onde vou buscar cada palavra, não sei de onde provém cada sentimento, embora não procure respostas ás perguntas que por vezes faço a mim mesma.
Dou um passo, dou mais outro e outro... Não conheço a direção pela qual caminho. Talvez caminhe em direção ao precipício na tentativa de cair sobre um sonho já há tanto perdido.
Nunca pensei em voltar ao passado, muito menos para reviver momentos ou sentimentos que julgava estarem extintos.
Faço agora a primeira pergunta ao fim de tantas palavras rabiscadas: Porquê. É a pergunta que agora faço. Porquê este regresso ao passado?
Escrevo tanto sobre ele, sinto saudades. Sinto saudades de ser quem era. Agora procuro-me onde me perdi na esperança de me encontrar onde outrora me encontrei, aqui ou ali... No fundo talvez isso não interesse, no fundo o que interessa é com quem, e quem sabe talvez sejas tu.
Talvez a resposta que eu procuro esteja onde me encontrei. Talvez a resposta sejas tu mesmo. Talvez o porquê de todas estas palavras seja devido ao desejo de te encontrar mesmo antes de me perder, na esperança de que um dia me perca, mas de uma outra forma, de forma a prender o meu olhar com o teu, de prender as minhas mãos ás tuas, de prender os meu lábios aos teus.
Talvez esteja perdida por aquilo que não é a realidade. Talvez esteja perdida por um caso já há muito morto. Talvez lute por algo que nunca existiu, mas no meio de tantas incertezas, uma certeza eu tenho, estou a lutar por alguém que existe, estou a lutar porque amo, estou a lutar por uma certeza...»

«Palavras ditas que ficaram por dizer,
Ficaram trancadas?
Não sei responder.
Malditas palavras desajeitadas
Que não consigo vencer.
Tento ver as horas,
Mas as horas não consigo ver,
O tempo não pára,
Não posso deixar o tempo vencer.
Onde ficaram as palavras,
As palavras que quero,
Mas não consigo dizer?
Sinto a tua a falta,
Como, nem eu consigo perceber,
Ainda não partiste,
Mas já estou a morrer.
Não sei que palavras usar,
Não sei o que dizer,
Não quero que vás,
Não te quero deixar,
Não te quero perder.
Mas eu não posso falar,
Tu não irias entender,
Tu atrás não irias voltar,
Tu nunca irias ceder.
Não sei porque continuo a escrever,
Talvez seja o que me permita sonhar,
Talvez seja o que permita viver,
Talvez seja porque me faz de tanta coisa recordar.
Talvez seja pelo medo ridículo de ao meu lado te deixar de ter.
Sei que não é isso que me está a amedrontar.
Tenho medo de que,
Um pouco de ti quando acordar,
Aos poucos comece desaparecer.
Não fomos nem somos nada,
Mas foi esse nada que tudo acabou por ser.»
«Deixa-me abraçar-te.
Deixa-me abraçar-te e perder-me algures por ti.
Quem sabe se os nossos lábios não se perderão juntos e as nossas mãos se encontrarão unidas.
Deixa-me ser quem eu sou e ao mesmo tempo quem eu nunca fui.
Deixa-me perder além de onde algum dia fui,
Mesmo sem algum dia o caminho voltar encontrar.
Deixa-me perder.
Deixa-me partir,
Mesmo havendo algo mais que uma simples aposta por apostar.
Peço apenas para te abraçar.
Deixa-me abraçar-te.
Preciso do teu abraço.
Preciso de um abraço que me faça ficar.
Preciso de um abraço que não me deixe partir.
Talvez eu não queira ir.
Eu não quero ir.
Talvez quero que digas,
Aquilo que sempre quis ouvir.
Ao abraçar-te quero que não mintas
Nem tão pouco uma saída para fugir.
Se eu for não irei voltar.
Por favor não me deixes ir.
Faz-me ficar,
Faz-me sorrir.
Deixa-me este jogo de palavras e atrevimentos ganhar.
Abraça-me.
Vem-me abraçar.
E se hoje for o meu dia de ir,
Vem e abraça-me mais uma vez,
E diz-me ao ouvido,
Num gesto de quem tem algo a esconder,
Que se eu for,
Comigo irás partir.»