segunda-feira, 30 de março de 2015

Quem já não é o que foi

«Ás vezes escrever torna-se um vício.
Chegam palavras atrás de palavras que não podem ser caladas ou adormecidas.
Que escritor seria capaz de embarcar num sono profundo quando as suas mãos anseiam por embarcar sobre uma leve folha, deixando salpicos de tinta?
Não é só um borrão, não, não são só palavras, não é só aquilo que todos pensam ser.
Um escritor não escreve só sobre aquilo que lhe vai na alma. Escritor que é escritor também escreve sobre nada.
O que muitos dizem ser nada, para um escritor é muito, e não há quem dê mais valor a isto do que o próprio.
O café adormece o sono permitindo um olhar mais atento sobre o lápis, que rabisca a folha lenta e delicadamente, sentido aquilo que outros jamais sentirão.
Ninguém escreve direito, ninguém alcança a perfeição de uma palavra, uma perfeição que não permite á mão uma unica tentativa.
O efeito do café mais cedo ou mais tarde acaba e os olhos fecham, o cansaço vence e o corpo cai sobre a mesa onde permanece a folha onde se fazem notar as palavras rabiscadas com a caligrafia de quem já não é o que foi.
Agora descanso, sem pressa e sem hora para acordar.
Tudo muda mas este medo da mudança nunca irá mudar.
Hoje a folha é esta e as palavras estão escritas. O que farei amanhã quando acordar e perceber que irá ser tudo igual?? O que farei amanhã quando acordar e perceber que o esforço do café foi em vão? O que farei quando acordar á tua procura e perceber que todos os dias que lutei por ti foram em vão?
Talvez escreva novamente ou talvez, quem sabe, guardarei uma folha em branco na minha gaveta, na minha vida, na esperança de um dia escrever a nossa história, mesmo que não seja a realidade.
Um verdadeiro escritor sabe que a vida não precisa de ser uma realidade, pode ser apenas um sonho que nos alimenta e nos mantém vivos...»

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