«Não escrevia há algum tempo, apesar disso estava em mim presente aquela enorme vontade e aquele desejo incontrolável de o fazer, só não sabia como agarrar novamente numa caneta e rabiscar algo com o minimo de sentido possível, visto que tudo o que me rodeava encontrava-se ao contrário ou talvez fosse a minha vida que já não sabia o seu rumo. Sim, talvez fosse isso, a minha vida.
Olhei para a folha vazia á minha frente, não sabia por onde começar, o que escrever, que palavras usar, mas eu precisava de fazê-lo, eu precisava de escrever, eu precisava de dizer tudo o que não foi dito, precisava de soltar todas as palavras que ficaram presas pelo medo de perder.
Foi nesse instante que percebi o verdadeiro motivo pelo qual não conseguia escrever, a folha estava, velha, amarrotada e rasgada, por mais que tenta-se iria sair sempre um borrão de tinta, que ninguém iria perceber e muitos nem sequer fariam o minimo de esforço.
Eu desisti. Desisti daqueles que desistiram e daqueles que não tentaram.
Chamaram-me de louca, e sem me questionarem arriscaram trocar aquele pequeno pedaço velho de papel já amarelado da idade resultando numa tentativa falhada, eu sabia que quem senti-se exatamente o mesmo eu iria perceber aquele ''borrão'' de tinta que manchava o manchava.
A folha tinha sido tantas vezes amachucada, trocada e esquecida pelos outros, e sem ninguém pensar nela estavam memórias, memórias de um ''para sempre'' que tinha acabado, memórias de palavras e oportunidades em vão, memórias de sonhos idealizados que não passavam disso, memórias.
O que não era apenas uma memória era o sofrimento presente bem como o sentimento de ter sido usado, usado por alguém que precisava dele e que se acabou por esquecer da sua existência, alguém que se esqueceu que quando se escreve seja o que for numa folha, ficará sempre a sua marca, alguém que se esqueceu que depois de ter tido tantas oportunidades jamais algum dia voltaria a ter outra. Mas acima de tudo alguém que desprezou uma página cheia de história, sentimentos, amor, vida, alguém que desprezou todas as oportunidades para lutar por ela.
Essa folha não precisava de ser escrita ou amachucada, essa folha não precisava de ser completa por cada bocadinho em falta, essa folha precisava de alguém que a aceita-se tal como ela realmente é...»

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